Redes de indignação e esperança – movimentos sociais da era da internet.

Este texto refere-se a um fichamento produzido por mim do livro de Manuel Castells, capitulo 6: A transformação do mundo na sociedade em rede. Espero que gostem.

O autor começa dizendo que os movimentos sociais são a alavanca para mudança social, e geralmente, são oriundos de uma crise. Crise de legitimidade dos governantes de conduzir assuntos públicos leva as pessoas a tomar as coisas em suas próprias mãos, envolvendo ações coletivas para no final mudar os governantes e até as regras que moldam a origem da crise, entretanto Castells considera esse comportamento arriscado. Mudança social: envolve uma ação coletiva e/ou individual que é emocionalmente motivada. Seis emoções básicas: medo, aversão, surpresa, tristeza, felicidade e raiva. O gatilho para a mudança social é a raiva e o opressor o medo.

Movimentos Sociais

Movimentos sociais: Não nascem, necessariamente, da pobreza ou do descontentamento político. Os movimentos sociais, que o autor vai estudar, estão baseados na era da internet e apresentam sete características comuns:

  1. São conectados em rede de múltiplas formas – O uso de comunicação é essencial. Formam-se redes dentro do movimento, com outros movimentos do mundo todo, com a blogosfera da internet. Tem sua existência continua no espaço livre da internet, e tendem a tornar-se um movimento hibrido ao ocupar espaços urbanos, gerando um terceiro espaço, que é o da autonomia. Castells refere-se a este espaço pela capacidade de se organizarem, as pessoas, no espaço livre das redes de comunicação, sendo este local uma nova forma dos movimentos sociais em rede. Ele enfatiza isto devido ao fato que os movimentos em rede não precisarem de uma liderança formal, diferentemente dos movimentos organizados por sindicatos, partidos entre outas organizações.
  2. Os movimentos são simultaneamente locais e globais – Começam em contextos específicos, entretanto são globais. Eles tem a sua própria forma de lidar com o tempo, o que Castells chamará de o tempo atemporal, que dividem-se em dois tipos de experiência:
    1. Vivem um dia após o outro (vivem o momento, a experiência real)
    2. Veem um horizonte de possibilidades ilimitado (projetam seu tempo num futuro do processo de construção histórica, a “utopia”).

Para o autor é um tempo emergente, alternativo, constituído de um hibrido do agora com o para sempre. Gênese dos movimentos: são espontâneos em sua origem, geralmente desencadeados por uma centelha de indignação. Castells destaca o poder das imagens, que é soberano, considerando o YouTube como uma das mais poderosas ferramentas de mobilização nos estágios iniciais do movimento.

Occupy Wall ST

3. Os movimentos são virais – Segue a lógica das redes da internet.

4.  A passagem da indignação à esperança realiza-se por deliberação no espaço da              autonomia – A tomada de decisão em geral é feita através de assembleias, porque            trata-se de um movimento sem liderança devido a desconfiança e descredito da                maioria dos participantes a qualquer forma de delegação de poder. As redes criam o        companheirismo, porque é através dele que as pessoas superam o medo e                        descobrem a esperança.

  5.  A horizontalidade das redes favorece a cooperação e a solidariedade, ao mesmo              tempo que reduz a necessidade de liderança – O movimento produz seus próprios            antídotos contra a disseminação dos valores sociais que deseja combater.

 6. São movimentos profundamente autorreflexivos – Questionam-se permanentemente        como movimento. Principal tema de debate: questão da violência. Em principio não          são violentos, porque na sua origem está a desobediência civil, pacífica. O objetivo          de      todos os movimentos é manifestar-se em nome da sociedade como um todo,      é fundamental eles sustentarem sua legitimação pela justaposição de seu caráter              pacífico à violência do sistema, usam a imagem da violência policial para ampliarem a      simpatia dos cidadãos pelo movimento.

Repressão policial

7.  Esses movimentos raramente são programáticos – Exceto quando pretendem derrubar um regime ditatorial. Estes movimentos sociais em rede não concentram-se num só projeto ou tarefa, assim como não podem ser canalizados por uma ação politica, logo, dificilmente serão cooptados por partidos políticos, embora estes possam lucrar  com a mudança  de percepção que os movimentos provocam na opinião pública. Assim os movimentos sociais são voltados para a mudança dos valores da sociedade. Castells coloca que estes movimentos são muito políticos num sentido fundamental que é quando propõem e praticam a democracia deliberativa direta, baseado na democracia em rede. Estes movimentos também propõem uma nova utopia no cerne da cultura, que é a autonomia do sujeito em relação às instituições da sociedade.

Castells coloca que os movimentos sociais surgem da contradição  e dos conflitos de sociedades especificas, e expressam as revoltas e os projetos das pessoas resultante de sua experiência multidimensional, e que os movimentos sociais em nossa época são fundamentados na internet. O papel da internet vai ultrapassar a instrumentalidade, porque ela cria condições para uma forma de prática comum que permite a um movimento sem lideranças sobreviver, deliberar, coordenar e expandir-se.

Os movimentos sociais são distintos de movimentos de protestos.

Eles são movimentos essencialmente culturais, que conectam as demandas de hoje com  os projetos de amanhã. Nos bastidores do processo de mudança social está a transformação cultural da sociedade, porque, segundo Castells, há uma emergência de um novo conjunto de valores definidos como individualização e autonomia.

  • Individualização: é a tendência cultural que enfatiza os projetos de individuo como supremo princípio orientador de seu comportamento;
  • Autonomia: refere-se à capacidade de um ator social tornar-se sujeito ao definir sua ação em torno de projetos elaborados independentemente das instituições da sociedade.

Transição da individualidade para a autonomia opera-se por meio da constituição de redes que permitem aos atores individuais construírem sua autonomia com pessoas de posição semelhante nas redes de sua escolha.

A tecnologia da internet incorpora a cultura da liberdade. Esta cultura no plano societal e da individuação e autonomia no plano dos atores sociais estimulam, simultaneamente, as redes da internet e os movimentos sociais em rede. E, por fim, Castells coloca que o verdadeiro objetivo é aumentar a consciência dos cidadãos em geral, qualifica-los para participação nos próprios movimentos e num amplo processo de deliberação sobre suas vidas e seu país, e confiar em sua capacidade de tomar suas próprias decisões em relação à classe politica. Porque a verdadeira batalha pela mudança social é decidida na mente das pessoas, e nesse sentido os movimentos sociais em rede têm feito grande progresso no plano internacional.

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